segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Xangô Rezado Alto - Evento marcará os 100 anos de um episódio histórico para a cultura alagoana

 


Na noite desta quinta (05) foi realizada uma reunião, no Auditório Guedes de Miranda, no Espaço Cultural da UFAL, para apresentação do projeto Xangô Rezado Alto, realizado pela Universidade Estadual de Alagoas, que visa marcar o centenário do episódio que ficou conhecido por “Quebra de 1912”, quando todos os terreiros e casas de matrizes africanas foram destruídos em Maceió e que, segundo estudiosos, culminou com o falecimento de um dos maiores nomes da época que foi Tia Marcelina, uma ex-escrava africana de Janga, Angola, descendente do Quilombo dos Palmares e de família real africana e juntamente com Manoel Gelejú, Mestre Roque, Mestre Aurélio e outros fundaram os primeiros Xangôs do Brasil, no bairro de Bebedouro – Maceió – Alagoas. O seu terreiro (casa de toque) estava situado num pequeno sítio atrás do Espaço Cultural da UFAL, hoje denominada Rua Sete de Setembro, lado direito do Riacho Salgadinho.

O quebra de 1912 foi um movimento que culminou com a destruição das casas de culto afro em Maceió em na noite de 01 para 02 de fevereiro, e que foi insuflado pela Liga dos Republicanos Combatentes – uma entidade civil com força suficiente para instigar e mesmo levar a cabo atos ilegais como invasão a casas oficiais, tiroteios, intimidações. O contexto político da época precisa ser levado em conta, quando a oposição, liderada por Fernandes Lima, tenta derrubar do poder a bem estabelecida e consolidada Oligarquia Malta. Euclides Malta, representante máximo da situação, era abertamente associado, pelos oposicionistas, aos cultos africanos e a seus representantes. É um fato que Euclides Malta mantinha boa convivência com os pais e mães de santo, como, aliás, é prática dos políticos em todo o País.





A crônica de Félix Lima Jr. afirma que os terreiros se distribuíam por toda a cidade: de Bebedouro ao Farol, da Ponta Grossa à Pajuçara, de modo que se podia ouvir os tambores tocando em dias de festa em praticamente toda a cidade.

Após a destruição dos terreiros e casas, grande parte dos pais e mães de santo de Maceió mudaram-se para estados vizinhos e os que resistiram, continuaram com seus ritos de forma que ficou conhecida como “Xangô rezado baixo”, já que os instrumentos e cântigos eram entoados a não chamar atenção.







Para marcar esse momento histórico para Alagoas, a Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) elaborou um projeto que conta com recursos próprios e do Fundo Nacional de Cultura para celebrar a memória deste episódio, como explica o Reitor da UNEAL, Jairo Campos: “A UNEAL vive um momento de maior aproximação com a comunidade e os movimentos sociais, e esse episódio é bastante emblemático, por isso pretendemos dar mais visibilidade às manifestações de cultura negra em Alagoas e buscamos no Ministério da Cultura o apoio financeiro para isso, com uma contrapartida nossa e juntamente com outros parceiros como a UFAL. Desta forma, assim, podermos demonstrar o poder de reação e resistência, elevando a auto-estima do povo alagoano, num trabalho que iniciou-se em outubro de 2010 e que agora colocamos em prática”.

A proposta  é que aconteçam eventos lembrando a data durante o ano todo, mas essa fase do projeto se estende até o mês de maio com realização de seminários, congressos, exposições, prêmios e apresentações artísticas. 




A primeira ação será um grande evento realizado nos dias 01 e 02 de fevereiro no centro de Maceió, com apresentações que acontecerão na Praça dos Martírios, que à época era um importante local para a cultura negra onde grupos situados no bairro da Cambona se encontravam. A programação completa será divulgada em breve pela produção, como explica um dos organizadores do projeto Vinícius Palmeira: “A nossa idéia com esse encontro é justamente discutir com a comunidade essa programação e em breve poderemos divulgá-la”, explicou.



Vários representantes de terreiros, pais e mães de santo, entidades, como o  IPHAN, Instituto Histórico, Secretaria de Cultura do Estado, Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas e pesquisadores estiveram presentes à reunião visando marcar a data no calendário cultural alagoano. Pai Célio, representante da Casa de Iemanjá fez questão de dizer: “Estamos felizes com esse projeto e prontos para contribuir em tudo o que for possível para sua realização”. Já para a Vice-reitora da UFAL, Rachel Rocha: “Nós (UFAL) vemos esse momento e esse projeto com muita alegria, até porque temos vários pesquisadores envolvidos e comprometidos com o tema e é uma oportunidade de começarmos o ano de 2012 cheio de eventos, reflexões e ações propositivas para a construção de uma agenda positiva para o movimento negro em Alagoas e essa união da academia com o popular é bastante louvável e desejada pelo menos desde 2004 quando começamos essa pesquisa e é uma busca de aproximação desses dois universos e reconhecimento da academia ao saber dessas comunidades tradicionais”, finalizou a Vice-reitora.






Xangô Rezado Alto – de fevereiro a maio de 2012
Proponente: Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL)
Incentivo: Fundo Nacional de Cultura / Ministério da Cultura
Parceiros:
·         Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
·         Instituto do Patrimônio Histórico e Geográfico Nacional (IPHAN)
·         Secretaria de Estado da Cultura
·         Secretaria de Estado da Educação
·         Secretaria de Estado da Cidadania, Mulher e Direitos Humanos
·         Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (ITERAL)
·         Centro de Ensino Superior de Maceió (CESMAC)
·         Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL)
·         BRASKEM
·         Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (COJIRA/AL)
·         Comunidades Terreiros de Alagoas









2 comentários:

  1. Parabéns a todas e todos envolvidos nessa ação importantíssima para o respeito às religiões de matrizes africanas e indígenas. Gostaria de ver se falar mais de Jurema, pois em AL ela também impera.

    Muito axé e sucesso no evento!! Se der estarei aí. Estou me programando.

    Salve a Fumaça!

    L'Omi.

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