O episódio conhecido como Quebra de Xangô foi um ato de violência praticado em 1º de fevereiro de 1912 contra as casas de culto afrobrasileiras de Maceió e que se estendeu pelo interior de Alagoas. Naquele dia, babalorixás e yalorixás tiveram seus terreiros invadidos por uma milícia armada denominada Liga dos Republicanos Combatentes, seguida por uma multidão enfurecida, e assistiram à retirada à força dos templos de seus paramentos e objetos de culto sagrados, que foram expostos e queimados em praça pública, numa demonstração flagrante de preconceito e intolerância religiosa para com as nossas manifestações culturais de matriz africana.
Esse evento, que intimidou o povo de santo e suas práticas nas décadas subsequentes proporcionou o surgimento de uma manifestação religiosa intimidada, denominada Xangô Rezado Baixo, uma modalidade de culto praticada em segredo, alimentada pelo medo, sem o uso de atabaques, e animada apenas por palmas. Essa violenta ação contra o povo de santo tem repercussões contemporâneas e pode ser apontada como uma das
fortes causas da invisibilidade de uma prática religiosa que é extremamente expressiva na capital e no interior de Alagoas, pois as pesquisas de estudiosos do tema apontam para a existência de cerca de 2 mil terreiros em todo o Estado.
O evento que hoje celebramos em memória ao episódio do Quebra dos terreiros, denominado Centenário do Quebra – Xangô Rezado Alto, recupera esse passado e reivindica da população alagoana e dos poderes públicos constituídos, atenção e compromisso para com as causa das populações afro-descendentes que não podem, não devem e não irão mais se intimidar frente às injustiças históricas praticadas no passado e que relegaram nossa população afrodescendente a situações de exclusão e de extrema dificuldade.
Por isso Xangô Rezado Alto, para que nunca mais em Alagoas, as comunidades afroreligiosas se sintam intimidadas ou envergonhadas de professar sua religião que é um grande e reconhecido contributo para a formação da cultura alagoana e que
muito nos orgulha.
Rachel Rocha (antropóloga e professora da UFAL)
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